O fim dos cliques? Entenda o impacto da IA no Google e na Web

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Você já reparou que a internet não é mais a mesma?
Sabe quando você joga uma pergunta no Google e, em vez daquela lista azul de links que a gente conhece há décadas, aparece uma resposta prontinha, montada por uma inteligência artificial? Ou quando você percebe que o conteúdo gratuito e de qualidade parece cada vez mais raro, escondido atrás de paywalls, enquanto a web aberta parece um mar de informações repetitivas? Pois é. Essa sensação de que a internet está... diferente... não é coisa da sua cabeça.
O que estamos vivendo não é apenas uma atualização de um aplicativo ou uma nova função em um site. É a manifestação mais visível de uma transformação profunda, sistêmica, que está redesenhando a própria arquitetura de como acessamos, consumimos e interagimos com a informação online. A inteligência artificial deixou de ser um tópico de ficção científica para se tornar a engrenagem por trás da maior recalibração da web desde a sua criação.
Mas, como toda grande mudança, ela vem acompanhada de um misto de empolgação e um bocado de apreensão. Notícias falam em "apocalipse para os sites" e no fim da internet como a conhecemos. É para entrar em pânico? A resposta curta é: não. A resposta longa é a jornada que vamos descobrir ao longo deste material.
Vamos começar entendendo o "terremoto" que está acontecendo no Google, a porta de entrada da internet para 90% das pessoas. Depois, vamos explorar as duas grandes visões de futuro que estão em disputa: uma mais pragmática e talvez um pouco sombria, a "machine web", e outra incrivelmente otimista e visionária, a "economia da intenção". Por fim, vamos descobrir como nós, como usuários, desenvolvedores e criadores, podemos não apenas sobreviver, mas nos tornar as estrelas dessa nova era. O objetivo é sair do susto e entrar na compreensão e na ação. Tudo pronto? Então vamos lá.
A inteligência artificial não é uma tecnologia nova, mas nos últimos cinco anos evoluiu tão rápido que transformou completamente nossa interação com praticamente tudo! Com a promessa de crescimento contínuo, é importante conhecer essas ferramentas e aproveitar as oportunidades que elas trazem.
Por que os cliques em sites estão diminuindo?

Para entender a dimensão da mudança, precisamos começar pelo lugar onde mais de 68% de toda a atividade na internet começa: os mecanismos de busca. Por anos, o acordo foi claro e simples. Sites e criadores de conteúdo produziam informação, e o Google, em troca, enviava um fluxo constante de pessoas para esses sites. Era uma simbiose que sustentou a economia da web aberta por quase 30 anos. Agora, esse acordo está sendo reescrito.
A causa principal tem nome: AI Overviews (AIOs) e AI Mode.
Os números não mentem e desenham um quadro claro dessa nova realidade. As AIOs estão se expandindo em um ritmo alucinante. Em janeiro de 2025, elas apareciam em 6.49% das buscas. Em março do mesmo ano, esse número saltou para 13.14%, um crescimento de 72% em apenas um mês. Isso mostra que a mudança não é um teste, mas o novo padrão que o Google está implementando.
O resultado direto é uma evaporação dos cliques. O fenômeno das "buscas de clique zero", onde o usuário encontra sua resposta na página do Google e não clica em nenhum link, explodiu. Hoje, cerca de 60% de todas as buscas terminam sem um único clique, e as projeções indicam que esse número pode ultrapassar 70% em breve. Um estudo da Pew Research Center confirmou essa tendência de forma brutal: em buscas com uma AI Overview, os usuários clicam em um link tradicional em apenas 8% das vezes. Em buscas sem a IA, essa taxa é de 15%, quase o dobro. A simples presença da IA na página de resultados parece cortar a chance de um clique pela metade.
A tabela abaixo resume o impacto com dados concretos de 2025:
Métrica | Dado concreto | O que isso significa na prática? |
Queda no CTR (1ª Posição) | -32% (de 28% para 19%) | Ser o número 1 no Google já não garante o clique como antes. |
% de Buscas "zero-clique" | ~60% | A maioria das pessoas encontra a resposta na própria página do Google. |
Diferença de cliques (Com AIO vs. Sem AIO) | 8% vs. 15% | A simples presença da IA na página de resultados corta a chance de um clique pela metade. |
Crescimento de AIOs (Jan-Mar 2025) | De 6.49% para 13.14% | Essa mudança não é um teste, está se tornando o novo padrão do Google rapidamente. |
Claro, o Google tem uma defesa. A empresa afirma que, embora o volume total de cliques possa diminuir, o tráfego que as AIOs enviam é de "maior qualidade" e direcionado para uma maior diversidade de sites. A lógica seria que, quando um usuário clica em um link dentro de um resumo de IA, ele está muito mais interessado e propenso a se engajar com aquele conteúdo.
O impacto também não é uniforme. As buscas informacionais (perguntas de "o que é", "como fazer", etc.) são, de longe, as mais afetadas, representando 88% das queries que geram uma AIO. Setores ricos em informação estruturada, como ciência, saúde e governo, estão na linha de frente dessa transformação. No entanto, o que preocupa os especialistas é o crescimento, mesmo que pequeno, das AIOs em buscas comerciais e de navegação, o que ameaça até mesmo o tráfego que as empresas recebem quando um usuário busca diretamente por sua marca.

Isso nos leva a uma percepção mais profunda. A crise atual não é necessariamente a morte do tráfego, mas sim a desvalorização da informação genérica e a revalorização da autoridade e do nicho. A IA é extremamente eficaz em sintetizar fatos e informações amplamente disponíveis. Portanto, qualquer site cujo modelo de negócio se baseia em produzir conteúdo que apenas repete o que já é de conhecimento comum está vendo seu valor ser comoditizado em tempo real. Por outro lado, se o tráfego que resta é de "maior qualidade", isso significa que os usuários que ainda clicam estão buscando algo que a IA não conseguiu entregar: uma análise profunda, uma perspectiva única, dados originais, uma comunidade vibrante ou uma experiência de produto que não pode ser resumida. O jogo está mudando de otimização para mecanismos de busca (SEO) para otimização para mecanismos de resposta (AEO - Answer Engine Optimization) e, mais importante, para uma otimização baseada em expertise e experiência real.
Internet feita para robôs?
Se a IA está se tornando a principal consumidora e sintetizadora de informações, para quem os sites deveriam ser feitos? Essa pergunta nos leva a um conceito que soa como algo saído de um filme de ficção científica, mas que descreve perfeitamente a direção para a qual estamos caminhando: a machine web.
A ideia central é a de uma internet onde o conteúdo é cada vez mais otimizado e estruturado para ser lido e compreendido por algoritmos de IA, e não primariamente por seres humanos. Isso representa a quebra definitiva do grande acordo que falamos no tópico anterior. Com as AIOs, o Google e outras IAs continuam a "sugar" o conteúdo, mas sem a garantia de devolver o clique.
Uma analogia para ilustrar o que acontece é a seguinte: imagine ir ao cinema e tentar comprar um ingresso para um filme, mas na hora da compra o atendente fala o resumo do filme.
Aquela experiência de começar pesquisando sobre um tópico e, de link em link, acabar descobrindo um novo hobby, uma comunidade de nicho ou uma perspectiva que você jamais imaginou. Em uma web de respostas diretas, a exploração dá lugar à execução. A internet se torna menos uma vasta biblioteca a ser explorada e mais um oráculo que fornece respostas definitivas, potencialmente nos aprisionando em bolhas de filtro ainda mais eficazes. O resultado poderia ser uma web mais "plana", menos diversa, com o poder e a visibilidade ainda mais concentrados nas mãos de poucas e gigantescas plataformas.
A visão de futuro apresentado por Demis Hassabis, chefe da Google DeepMind, é ainda mais radical. Ele sugere que, em alguns anos, os publishers podem nem se preocupar em ter um site para humanos. Em vez disso, eles alimentariam seu conteúdo diretamente para os modelos de IA, que se tornariam os intermediários exclusivos da informação.
Essa ideia de uma machine web pode parecer disruptiva, mas, na verdade, é a evolução natural do SEO levada à sua conclusão lógica. O SEO sempre foi sobre tornar o conteúdo "legível" e "atraente" para os algoritmos, a fim de alcançar uma audiência humana. Com o tempo, as técnicas se tornaram cada vez mais técnicas, com dados estruturados, schema markup, e outras marcações que são invisíveis para o humano, mas cruciais para a máquina. A IA simplesmente remove o intermediário humano da equação em muitos casos. O algoritmo não é mais o portão para o usuário; o algoritmo é o destino.

Isso significa que o foco da criação de conteúdo e do desenvolvimento web pode mudar drasticamente de "como apresentamos essa informação de forma atraente para um humano?" para "qual é o formato de dados mais limpo, eficiente e verificável para alimentar este modelo de IA?". Isso tem implicações diretas para desenvolvedores, que podem ver uma demanda crescente por APIs robustas, web semântica e formatos de dados que facilitem a ingestão por máquinas, um conceito que ecoa as ideias por trás da web moderna.
Da economia da atenção para a economia da intenção
Para entender essa mudança, primeiro precisamos reconhecer o mundo em que vivemos hoje, que basicamente é uma web projetada para um único propósito: capturar e reter nossa atenção pelo maior tempo possível. Feeds de rolagem infinita, notificações constantes, títulos caça-cliques…tudo é meticulosamente projetado para nos manter engajados. O problema é que essa arquitetura nos leva a resultados que são apenas suficientes para essa finalidade, e não os melhores possíveis, simplesmente porque nossa atenção é sequestrada no processo. O objetivo final é monetizar nosso tempo de tela, geralmente através de publicidade, por isso é chamada de economia da atenção.
A economia da intenção vira essa lógica de cabeça para baixo. O paradigma muda de cliques para resultados. Em vez de o usuário ter que navegar por um labirinto de sites, anúncios e distrações, ele simplesmente expressa uma intenção clara. Por exemplo: "quero organizar uma viagem de fim de semana para a praia no nordeste em agosto, com voos diretos e um hotel bem avaliado perto do mar". Em vez de abrir 15 abas no navegador, o usuário lança essa intenção, e a internet se coordena nos bastidores para resolver o problema da forma mais eficaz possível.
Como isso já é possível?
A resposta está nos agentes de IA autônomos. Eles são os motores da economia da intenção. Esses agentes, agindo em nosso nome, interpretam nossa intenção e executam fluxos de trabalho complexos que hoje exigem nossa intervenção manual. Eles pesquisam, comparam, negociam e executam transações. Está vendo a importância na criação de prompts?

Claro, essa visão também traz seus próprios desafios, como garantir a privacidade dos nossos dados e evitar que os agentes de IA criem novas bolhas de filtro.
É justamente por isso que, para delegarmos tanto poder a agentes digitais, precisamos de uma camada de confiança. É aqui que entra a tecnologia blockchain e os conceitos da Web3. A blockchain, com suas características de descentralização e imutabilidade, pode fornecer a infraestrutura segura e verificável que esses agentes precisam para operar. Ela garante a propriedade dos nossos dados, estabelece permissões claras e torna as transações à prova de fraude, criando a base de confiança para essa nova internet. É uma internet que existe além das páginas e dos cliques que conhecemos hoje.
Na economia da atenção, é o usuário quem faz todo o trabalho pesado: ele pesquisa, filtra, compara, preenche formulários e navega por dezenas de interfaces. As plataformas competem para serem uma das paradas nessa longa jornada. Na economia da intenção, o agente de IA faz o trabalho pesado. O usuário apenas define o objetivo e aprova o resultado. Isso muda tudo no modelo de negócios online. As empresas não venderão mais "acesso à informação" ou "ferramentas de busca". Elas venderão "resultados garantidos". Um desenvolvedor não criará um "app de reserva de hotéis", mas sim um "agente especialista em reservas" que pode ser contratado pelo agente principal do usuário.
Estamos falando de uma verdadeira economia de APIs para a vida real, onde a "moeda" é a conclusão bem-sucedida de uma tarefa.
Novos modelos de negócio e a batalha pelo valor
Com a desvalorização do clique e a ascensão das respostas diretas, a pergunta de um milhão de dólares ecoa por toda a indústria de conteúdo: se o clique morreu, como se ganha dinheiro? A resposta que está emergindo com mais força é o licenciamento de conteúdo.
Em vez de depender de receita de publicidade baseada em visualizações de página, os criadores de conteúdo estão começando a monetizar seu ativo mais valioso diretamente: a própria informação. As empresas de IA, famintas por dados de alta qualidade para treinar e aprimorar seus modelos, estão dispostas a pagar por isso. E isso não é uma possibilidade futura; é um mercado multibilionário que já está em plena atividade.
Os acordos concretos são a maior prova dessa nova economia:
- Google e Reddit: um acordo reportado em $60 milhões por ano permite que o Google use o vasto oceano de conversas humanas do Reddit para treinar seus modelos de IA.
- OpenAI e a mídia tradicional: a criadora do ChatGPT fechou parcerias estratégicas com gigantes da mídia, garantindo acesso a um fluxo constante de conteúdo de notícias verificado e atualizado.
- Shutterstock e o mundo das imagens: a plataforma de banco de imagens fechou acordos de licenciamento com Meta, OpenAI, Amazon e Apple, fornecendo milhões de imagens legendadas para o treinamento de modelos de geração de imagem.
O interessante é que não existe um modelo único de licenciamento. O mercado está em fase de experimentação, e diferentes "sabores" de acordos estão surgindo, cada um com suas vantagens e desvantagens:
- Taxa fixa (training fee): é o modelo mais simples. A empresa de IA paga uma taxa única e vultosa para ter acesso a todo o arquivo de um publisher para treinar seu modelo. É rápido e garante receita, mas não gera renda contínua.
- Revenue share (compartilhamento de receita): o publisher recebe uma porcentagem da receita que a empresa de IA gera com seus produtos (por exemplo, de assinaturas do ChatGPT Plus). É um modelo com potencial de longo prazo, mas depende do sucesso comercial da IA.
- Per-use compensation (compensação por uso): neste modelo, o publisher é pago cada vez que seu conteúdo é usado ou citado em uma resposta da IA. A Perplexity AI, por exemplo, tem um programa que compartilha a receita de anúncios com os publishers cujas páginas são citadas.
- Value-in-kind (troca de valor): em alguns casos, a negociação envolve uma troca. O publisher cede seu conteúdo e, em troca, recebe acesso a tecnologias, ferramentas ou dados da empresa de IA, o que pode ajudá-lo a otimizar suas próprias operações.
Para que modelos como o de compensação por uso funcionem, e para que todo o ecossistema de informação se mantenha saudável, um elemento é absolutamente crucial: a atribuição. As IAs precisam citar suas fontes de forma clara, transparente e acessível. Isso não é apenas uma questão de ética ou de dar crédito a quem merece. É a base técnica e econômica que permite que o valor flua de volta para os criadores originais, garantindo que eles tenham um incentivo para continuar produzindo o conteúdo de alta qualidade que alimenta as próprias IAs.
Essa nova economia de licenciamento está, sutilmente, criando uma classe de ativo digital inteiramente nova, que poderíamos chamar de "dados verificados como serviço" (verified data as a service - VDaaS).

A grande falha dos modelos de IA é sua tendência a "alucinar" (inventar fatos) ou a se basear em informações de baixa qualidade da internet.
Para aplicações críticas em áreas como finanças, saúde ou jornalismo, as empresas de IA não precisam apenas de muitos dados; elas precisam de dados precisos, atualizados e autênticos. É aqui que entra a oportunidade. Publishers já estão explorando o uso de blockchain para criar um registro imutável de todo o seu conteúdo, provando criptograficamente sua origem e autenticidade. O que eles estão licenciando não é apenas o "texto de um artigo", mas sim o "texto de um artigo com um selo de verificação de que ele é genuíno". Eles estão vendendo confiança computacional, um produto premium na era da desinformação.
Você na nova era da internet
A mudança é massiva, inevitável e, sim, pode ser assustadora. Mas ela não representa o fim da internet. Representa uma evolução. E, como em toda grande evolução tecnológica, as velhas regras são quebradas, mas novas e incríveis oportunidades surgem para aqueles que entendem as novas regras do jogo. O poder está em sair da posição de consumidor passivo e se tornar um arquiteto ativo desse novo ambiente, seja desenvolvendo os agentes, criando o conteúdo verificado que os alimenta ou simplesmente usando essas novas ferramentas para potencializar nossas vidas e carreiras.
Entender tudo isso é o primeiro e mais importante passo. Mas e se você pudesse não apenas entender, mas também construir e comandar as ferramentas que estão moldando esse futuro?
É exatamente essa a proposta da Masterclass de IA com Rodrigo Gonçalves. Nela, você vai sair da teoria e colocar a mão na massa, aprendendo a usar ferramentas como ChatGPT e Gemini para automatizar tarefas, ganhar um tempo precioso e se destacar no mercado, mesmo que você não saiba programar. Esta é a sua chance de se tornar um protagonista nesta nova era da internet.
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